Dois casos delicados da natureza humana: de um lado, o humor mórbido, que faz graça (sem graça nenhuma!) com a dor humana, com a exposição do outro ao ridículo e ao desconforto. Imoral e grave, por ter tido tempo entre o planejamento e a execução, tempo suficiente para que as consequências pudessem ser avaliadas. No "melhor" dos resultados sonhados pelo "humorista", todos, o marido, o auditório presente e o público virtual ririam da situação constrangedora da vítima. Vejam bem: esse horrível painel é o "melhor" que ele poderia esperar. E a equipe do Oscar seleciona este tipo de profissional para conduzir uma cerimônia deste nível de importância mundial.
De outro lado, temos a impulsividade de Will Smith. Somos obrigados, simultaneamente, a entender a sua dor e a condenar sua atitude, pois todos já sentimos na pele as consequências da perda do autocontrole nas nossas vidas.
Sabemos o quanto dói, constrange e humilha. Se um cão late para nós, não devemos latir para ele de volta; não somos cães.
Perder o controle é responder às circunstâncias de forma irracional, sem senso ou critério humano, o que fere nossa dignidade e nos expõe.
A questão é que a maioria de nós tem seu "ponto de corte", ou seja, o limite do que seríamos capazes de suportar, o que varia muito, de pessoa para pessoa.
Ampliar esse limite, não deixar que as circunstâncias nos roubem a nós mesmos, tudo isso é resultado de treino diário, de fortalecimento de caráter que devemos construir dia a dia, ao longo da vida.
Quando um companheiro humano de jornada comete este erro, deveríamos ter ao mesmo tempo compaixão em relação a ele e mais atenção em relação a nós mesmos. Que o fato seja um fator de amadurecimento para todos, pois, ao invés de criticarmos ou aprovarmos, podemos olhar para a experiência do outro com o olhar de aprendizes.
Logo, como síntese, eu proponho duas perguntas, e espero que as responda silenciosamente, apenas para si próprio, mas que reflita sobre as respostas sob o ponto de vista da dignidade humana:
Eu já ri da dor alheia?
Eu já perdi o controle diante de provocações?
Assim, ao invés de julgarmos o outro, crescemos graças ao outro.
Texto de Lúcia Helena Galvão
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