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domingo, 31 de janeiro de 2021

Eu nunca me senti uma pessoa muito livre...



Eu nunca me senti uma pessoa muito livre. Na infância sentia que meus pais me controlavam demais. Na adolescência reproduzi o comportamento, eu mesma me controlando em excesso, dissimulando meus pensamentos e sentimentos. Na idade adulta, passei a controlar os outros. 

Existe algo de perverso na ideia de controle, que é a sensação de que você sabe o que é melhor, sempre. Se ao menos as pessoas fossem como você gostaria que elas fossem, todos - inclusive elas - seriam mais felizes. A vida entraria nos eixos. Se fizesse sol ao invés de chuva. Se o maracujá estivesse mais doce. Se as pessoas cumprissem horários. Se o vizinho fosse mais silencioso.

A gente entra num looping de se distanciar da vida porque ela não acontece da forma como gostaríamos que ela acontecesse - tudo para não sentir o caos e a impotência correndo nas veias.

Como se Deus tivesse que estar lá na parede, estampando o quadrinho de funcionário do mês.

Nada pode ser menos liberdade do que isso: precisar que o mundo gire na velocidade e direção que você quer para conseguir experimentar contentamento.

Eu tenho descoberto que a nossa liberdade só existe quando a gente deixa que o mundo seja livre.

Eu tenho trabalhado com a ideia de que não importa a direção na qual o mundo gire, eu vou sempre me esforçar para fazer desse movimento a minha pista de dança.

E da ausência de controle sobre o outro a minha passarela.

Eu não sei se isso faz sentido para você mas eu sinto que as coisas precisam ser sentidas para fazerem sentido.

E é só mergulhando no caos da entrega ao desconhecido que vamos conseguir reconhecer as asas que enfeitam nossas costas.

E perceber que, na verdade, elas sempre estiveram aqui.

Texto de Flávia Melissa🍃

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