Em hebraico, quer dizer passagem. A passagem, no rio, de uma margem à outra margem, a passagem de um pensamento a outro pensamento, a passagem de um estado de consciência a outro estado de consciência. A passagem de um modo de vida a outro modo de vida.
Esta fala de Jesus lembra que somos peregrinos sobre a terra. Somos passageiros. A vida é uma ponte e, como diziam os antigos, não se constrói uma casa sobre uma ponte. Temos que manter, ao mesmo tempo, as duas margens do rio, a matéria e o espírito, o céu e a terra, o masculino e o feminino e fazer a ponte entre estas nossas diferentes partes, sabendo que estamos de passagem. É importante lembrar-se do caráter passageiro de nossa existência, da impermanência de todas as coisas, pois o sofrimento geralmente é de querermos fazer durar o que não foi feito para durar. A grande Páscoa é a passagem desta vida mortal para a vida eterna, é a abertura do coração humano ao coração divino. É a passagem da escravidão para a liberdade, passagem que é simbolizada pela migração dos hebreus, do Egito para a terra Prometida. Mas não é preciso temer o Mar Vermelho. O mar de nossas memórias, de nossos medos, de nossas reações. Temos que atravessar todas estas ondas, todas estas tempestades, para tocar a terra da liberdade, o espaço da liberdade que existe dentro de nós.Sede passante! Creio que esta palavra é verdadeiramente um convite para continuarmos nosso caminho a partir do lugar onde algumas vezes paramos. Observemos o que para a vida em nós, o que impede o amor e o perdão, onde se localiza o medo dentro de nós. É por lá que é preciso passar; é lá nosso Mar Vermelho. Mas, ao mesmo tempo, não esqueçamos a luz, não esqueçamos a liberdade, a terra que nos foi prometida!
Jean-Yves Leloup
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