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terça-feira, 26 de setembro de 2017

Meu Abusador não é um monstro!


Meu Abusador não é um monstro!
Aconteceu quando eu tinha oito anos. Me perdi da minha mãe no mercado e ele me encontrou. Ele apalpou minha vagina, pressionou seu corpo contra as minhas costas e tentou me levar pela mão. Levei muitos anos até criar coragem para contar o que houve para conhecidos. Desde então, preciso escutar a mesma resposta: “nossa, você foi vítima de um monstro.”
Mas meu abusador não é um monstro. Meu abusador possui nome, endereço e carteira de identidade, exatamente como eu e você. Mesmo assim, as pessoas preferem dizer que ele não é humano.
Preste atenção nas notícias envolvendo abuso de menores. Das centenas de comentários na reportagem sobre a menina que foi abusada pelo padrasto, o que mais faz sucesso é aquele em que alguém afirma que “um homem de verdade não faz uma coisa dessas”.
Não faz?
Da próxima vez em que você se deparar com um comentário desses, faça um favor a todas as vítimas:
Não retire a humanidade dos abusadores.
Enquanto dissermos que estupro é coisa de monstro, crianças não conseguirão denunciar seus agressores. Afinal, aquele tio que passa a mão na sobrinha é tão querido com todos! Na cabeça da menina de quatro anos, ele não pode ser um monstro. O paizão que faz churrasco no final de semana e espanca os filhos ao chegar em casa também não deve ser um monstro, todos gostam dele!
Eles não possuem garras afiadas e nem olhos assustadores. Eles não têm dentes pontiagudos e nem escamas. Abusadores jogam bola com os vizinhos no final de semana. Abusadores também são os queridões da turma. Abusadores frequentam o culto aos domingos. Abusadores são tios, primos, pais, padrastos. São médicos, advogados, taxistas, servidores públicos.
Abusadores estão por todo lugar, e talvez estejam mais próximos do que você imagina.
Resista à tentação de comentar que alguém que molesta uma criança é um monstro. Crianças não possuem a mesma abstração que você, e podem nunca vir a identificar agressões de um homem ou mulher, caso você afirme que quem maltrata um inocente não é um ser humano.
Monstros vão embora com cobertores e abraços.
Molestadores, não.

Texto de Natália Rosa Nodari

- Filho ninguém tem o direito de tocar em você. Ninguém pode fazer isso. Só depois quando você crescer e for um adulto, daí sim você vai escolher quem vai te tocar. Enquanto você for criança, ninguém pode fazer isso! Ninguém mesmo!!! E fale pra mamãe se alguém tentar. Combinado?

Essa foi a conversa que tive com meu filho de 4 anos. Acho que essa conversa tem que existir com os pequenos. Eles devem ser alertados. Devem saber que existe esse tipo de coisa. 
É uma porta que tem que ficar aberta, para que eles se sintam confortáveis em falar se algo acontecer.
Quando li este texto da Natália, achei forte e muito verdadeiro. 
Essa semana algo semelhante aconteceu com uma menina de 5 anos em um supermercado em Porto Alegre. Enquanto ela estava distraída olhando uma gôndola um senhor se aproximou e abusou dela rapidamente. Foi preso. 
E era um senhor com família, perfil no facebook, com filhos...Alguém aparentemente normal.
Os abusadores estão por aí...e muitas vezes mais próximo de que imaginamos. Acima de qualquer suspeita. Lobos disfarçados, em pele de cordeiro. Senhores com cara de bonzinho, comprando biscoitos no supermercado...
Humanos sim! Mas com a alma repugnante.


18 comentários :

  1. excelente reflexión ... gracias por compartir..

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  2. Parabéns! Artigo bastante inteligente e esclarecedor!

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  3. Excelente artigo! Muitas crianças por ser vulneráveis sente-se desprotegidas.

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  4. Que belo texto. Muito rico. Obg por compartilhar.

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  5. isso mesmo. Todos sempre gostaram do homem que abusou de mim por muito anos desde meus 6 até quase 9. Ele frequentava a minha casa e era como um irmão, filho qualquer coisa do tipo para minha mãe. E, o excesso de cuidados comigo era para ser mostrar bonzinho, protetor. Minha mãe não acreditou quando um dia, rindo inocentemente contei que ele a noite passava a língua na minha xoxota.
    Lembro das palavras dela se você continuar com essa conversa vai levar uma surra!! Então, me calei e continue ser abusada até ele escolher outra garotinha , pois já estava crescida.
    Porém , tive que conviver com aquele homem imundo, nojento me beijando o rosto me abraçando. Sentia que ele queria ter a certeza que eu não tinha contado para ninguém é ou não lembrava de nada.
    Hoje, quando vejo uma criança no colo de algum homem me vejo no colo dele indo ao zoológico. Ele me colocava no seu colo sentada em cima do seu pênis e ia se movimentado até chegarmos lá e tudo ocorria na volta.
    Enfim, cresci e vi aquele homem fora de qualquer suspeita fazer isso com outras crianças . Mas infelizmente nunca tive coragem de denunciar.

    Cristiane Conceição

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    1. Ótimo Texto Parabéns. É mesmo revoltante, vamos ajudar do melhor jeito.

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    2. Tenho duas filhas Cristiane e tenho muito medo, por isso estou sempre atenta a qualquer coisa. Espero que vc esteja bem.

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  6. Excelente texto. Parabéns. Natália. Vou socializa-lo com meu grupo de pesquisa.


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    1. Nossa bem que o meu pai me dizia sempre para nunca sentar no colo de nenhum homem mesmo que fosse meus tios seus irmãos ele repetia nenhum homem e não deixa tocar em você.

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  7. Reflexão extremamente necessária... Parabéns pela iniciativa!

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  8. Parabéns pelo belo texto e reflexão absolutamente oportuna.

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  9. Excelente texto. Bastante esclarecedor.

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  10. Hoje tenho 41 anos,tenho minha família mas carrego traumas da minha infância que me assombram frequentemente...

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  11. Me identifiquei pelo trecho onde diz que o abusador está em todo lugar, remetendo-me aos anos 80.
    Num grande de Salvador, havia um homem sempre muito bem vestido, cabelo e barba impecáveis, usuário de carros caros importados, residia em bairro ainda nobre à época, a Barra, RUA Marquês de Caravelas, e, o seu modo de agir era frequentando o fliperama do shopping que era um espaço de vídeo games e entretenimento, que deveria ser para crianças e adolescentes e seus pais e acompanhantes apenas. Ele (esse era monstro mesmo), se aproximava dos garotos, na faixa etária de 12 a 15 anos, e os atraia para sair do shopping e levar para dar uma "CARONA" no seu carro e culminava que levava para a sua casa na Barra, mediante pagamento em dinheiro e mantinha relações e manteve com alguns garotos. Sempre meninos. O fato era consumado e Graças a Deus e aos anjos da guarda de cada um, nunca se soube de que ninguém sofreu violência maior ou mesmo a morte.
    A lição disso tudo é que acho que os pais precisam proteger seus filhos, sob pena de ficarem com danos físico e principalmente emocional irreversíveis. PROTEJAM SEUS FILHOS!

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